Quando comentei com uma amigo que iria estudar o Tantra, ele olhou pra mim, com um ar de menino levado e disse: "Oba!" Entendi muito bem a sua reação, pois em nossos dias, a mídia faz questão de colocar que o Tantra é uma forma de "ginástica sexual" ou ainda, a solução para qualquer relacionamento a partir da união física. Então, peço a você que esqueça este "bombardeio" de conceitos errôneos e que auxilie a colocar o Tantra, como o que realmente ele é: uma filosofia hindu de natureza comportamental tendo por principais características a sua natureza matriarcal, sensorial, naturalista e desrepressora. Fico muito feliz quando vejo que o TANTRA começa a ser visto como o que ele realmente é: própriocepção, filosofia de vida. A prática do Tantra é antes de qualquer coisa, consciência, para levar você de volta para sua casa, para sua origem divina. Os conceitos do Tantra são baseados no culto de Shiva e Shakti: visualiza o Brahman definitivo como Param Shiva, manifesto através da união de Shiva (a força passiva, masculina, de Shiva) e Shakti (a força criativa, feminina, de sua esposa, conhecida também como Kali, Durga, Parvati e outras).
Autores "especializados" em Tantra dizem que o Tantra surgiu entre 600 e 900 anos antes de Cristo, mas, na verdade, não se conhece a origem do Tantra; basta citar que o "vigyam bhairav tantra" remonta a 5 mil anos, todavia o Tantra ainda é muito anterior a este período. Nas tradições iniciáticas do Tantra têm-se que ele está inserido no contexto do processo formativo da humanidade, estando presente no desenvolvimento humano desde os primórdios. Jung relata que ele estaria inserido em nosso DNA , em nossos cromossomos e possui uma contraparte arquétipa, de complexo espiritual que desconhecemos ainda. A prática do Tantra se assemelha à prática do Yoga no que diz respeito ao alcance de um amplo estado de consciência superior, Bhúdico, chamado de hiperconsciência ou supraconsciência – um estado que não se alcança com a mente ou com a disciplina, pois é necessário ir além da mente.
O Tantra é uma ciência espiritual e mística , um modo de vida, orientado para o auto-conhecimento, para desenvolver mais consciência, sensibilidade, aceitação, naturalidade, totalidade e presença em todos os aspectos da vida. Tantra é viver e aproveitar a vida em seu máximo, sem barreiras, Tantra é viver e experimentar toda a beleza do aqui e agora, com a mente livre do passado e das expectativas do futuro. Está centrado no desenvolvimento e despertar da kundaliní, a "serpente" de energia ígnea, de natureza biológica e manifestação sexual, situada na base da espinha que ascende através dos chakras até se obter a união entre Shiva e Shakti (samadhi). Tantra é "Leela" (palavra de origem sânscrita que significa brincadeira, no sentido de que a vida é uma brincadeira, e não uma coisa séria). Assim ser "tântrico" é jogar o jogo da vida conscientemente, é saber-se de natureza básica e Divina e brincar no jogo da Vida um pouco mais.
Tantra é um termo muito amplo e a maioria dos trabalhos com o Tantra não trazem um compreensão clara da maravilhosa herança do que pretendem representar e incorrem na distorção e na vulgarização do sexo banal, do jogo de sedução e dos relacionamentos, como se o Tantra objetivasse isso. Tornou-se "tantrismo", uma evasão fácil, reduto para inúmeros degenerados morais e sexuais e mesmo em seu país natal, os ensinamentos Tântricos caíram em descrédito precisamente por causa do uso indiscriminado de muitos de seus fundamentos atrelados ao sexo e à sexualidade. Muitas pessoas também, pensam que o Tantra é Yoga; porque houve vertentes filosóficas que se apropriaram das fundamentações do Tantra original, associando-as com práticas e conceitos religiosos também a subverteram para várias fundamentações filosóficas, agregando formas e conteúdos antagônicos ao Tantra ( ex: karma e dharma).
O Tantra é comportamental, uma atitude espontânea pela qual o ser humano alcança um profundo sentimento de religiosidade, está impregnado de espiritualidade, mas não é religião; pois não possui dogmas, sistemas, preces, orações, rituais ou símbolos. No Tantra não se faz uso de mantras com a conotação usual que os mantras adquiriram, não se utiliza de mudras, de paramentações ou atitudes religiosas. Originalmente não está ligado aos "ismos" (budismo, hinduísmo, taoísmo, jainismo), embora algumas correntes ligadas a essas religiões tenham se utilizem, contraditoriamente, de fundamentos aplicados ao Tantra, alterando muitos de seus preceitos, incorporando ideologias e posturas que na essência desmontam todos os objetivos do Tantra e muitos crêem também que o Tantra refere-se à contenção ejaculatória de conformidade com o pensamento taoista como um caminho espiritual. Todavia em sua originalidade não prevê nenhum tipo de contenção ejaculatória, pois refere-se ao relaxamento e descondicionamento do corpo.
Através do silêncio, da meditação o Tantra resgata o sagrado e o divino que existe em cada ser humano. Pelo ato da entrega e do relaxamento profundo, nos encontramos com o divino em nós e no outro, o triângulo perfeito. Muitos autores colocam que o tantra é composto por dois ramos: "mão esquerda" e a "mão direita" e embora o objetivo geral dos dois seja o mesmo, os processos utilizados diferem. A "mão esquerda"( Avidya ) está ligada muitas vezes à procura de poderes ocultos e à extroversão de energia psíquica sob forma de capacidades supra-normais e a "mão direita" (tantra do conhecimento) está ligada à canalização de toda a energia para a elevação espiritual do ser humano. No budismo tântrico se enfatiza a necessidade de supervisão por um orientador de confiança.
O Tantra vê o corpo como um meio para o conhecimento; usa mantras (vocalização de sons e ultra sons em sânscrito), yantras (figuras geométricas) e rituais que incluem formas de meditação de grande complexidade, realizadas com orientação de uma pessoa experiente, pois podem ser fatais. Para que a compreensão profunda aconteça é necessário uma mudança de paradigmas onde a visão cartesiana, filosófica, religiosa e científica seja alterada para uma visão aberta ao novo, ao misterioso e ao desconhecido. O Tantra trata basicamente de relaxamento, aceitação e entrega, não tendo nenhuma relação com controle ou poder, com manipulação da energia seja através da mente ou sobre o corpo físico. Ele não se utiliza de ásanas ou posturas utilizadas como rituais; suas técnicas de meditação são dinâmicas e vivenciais, flexíveis, e podem ser modificadas pelo Mestre ou facilitador segundo a necessidade que cada indivíduo ou grupo apresentem no seu aprendizado. Não há rigor em Tantra, não há disciplina, não há imposições, oposições ou repressões e muitos princípios do Tantra estão presentes no Yoga porque o Yoga apropriou-se desses princípios, integrando-os ao seu sistema, dando a impressão de que pertencem ao Yoga.
O contato com Tantra, possibilita uma espécie de saber, mas não é o saber que se aplique racionalmente pela lógica ou pela razão; é uma sabedoria profundamente transformadora, como a nossa humanidade jamais conheceu. O Tantra não se utiliza da linguagem falada, mas do silêncio, do inaudível; a pessoa é conduzida a viver plenamente a sua sensibilidade e a totalidade de suas percepções (físico, mental, emocional e espiritual), sem buscar como rota de fuga a tagarelice mental, verbal, ou outras formas de comunicação. É reconhecido por muitos como uma ciência comportamental, mas suas bases são completamente diferentes da ciência oficial (que se baseia na observação através da razão e da lógica), porque é sensibilidade consciente e abertura pra novos caminhos cognitivos.
Tantra lida com o hemisfério direito cerebral, com a experiência não verbal, com aspectos sensoriais que inferem diretamente no aspecto comportamental e também não é filosofia, pois o caminho de auto-realização do Tantra é pela percepção de si mesmo (propriocepção), pelo reconhecimento e expansão de nossa sensibilidade e consciência, não pela compreensão das palavras ou pelo entendimento intelectual; a linguagem do tantra é experimental, vivencial e integrativa, nos possibilita um entendimento experimental, no qual alcançamos uma compreensão mais abrangente e mais significativa que aquela compreensão usual proveniente das palavras e do raciocínio lógico.
O Tantra traz toda sabedoria antiga aliada as mais modernas técnicas terapêuticas, adaptada para a sociedade de hoje; trata do ser humano como ele é, e não como deveria ser, preocupando-se com ele em sua totalidade, com a consciência da própria vida, levando-nos a desenvolver todo o nosso potencial através de nossa própria experiência, considerando toda e qualquer situação como uma oportunidade de autoconhecimento e expansão de nossas capacidades, propiciando assim uma maior integração entre todos os aspectos do nosso Ser. É uma prática da vida existencial real.
Bjos no Coração
Abraço na Alma
Abraço na Alma
Namastê!
Saviitri Ananda - CRTH/BR0230
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