Os sonhos são uma linguagem simbólica que contribuem para nosso autoconhecimento e nos permitem adquirir uma maior consciência da nossa personalidade. Nosso entendimento dessa linguagem pode nos fornecer condições de compreender conflitos e questões fundamentais da nossa existência. No Talmude existe uma citação que diz: “um sonho não compreendido é como uma carta não aberta”. Desvendar a linguagem de nossos sonhos é decodificar nossos caminhos.
A compreensão dos sonhos faz com que a pessoa entre em contato consigo mesma. Todos nós sonhamos e poucos entendem seus sonhos. Na verdade agimos como se eles nada significassem e acreditamos que nossa mente adormecida apenas esteja descansando das atividades do dia-a-dia. Orgulhamos-nos de ser realistas, racionais, ativos; agimos e observamos dentro do mundo exterior com controle de uso e manuseio, mas não concebemos mais do que duplicações de acontecimentos e experiências concretas.
Quando sonhamos, despertamos para outra existência. No sonho nós somos os autores, criamos um enredo, encarnamos como protagonistas; ao sonharmos, nossa lógica cartesiana é desprezada, as categorias de tempo e espaço que conhecemos são anuladas. Sonhando não somos restringidos aos limites da realidade, do espaço, do tempo, do corpo... nada mais nos é restrito, temos o “poder”.
Os sonhos nos dão vazão a um grande número de experiências e acesso a muitas memórias e é uma experiência presente e real. Todas as experiências pelas quais passamos em um sonho desaparecem quando acordamos e via de regra, são muito difíceis de ser recordadas; isso porque é escrito numa linguagem simbólica que não traduzimos.
Jung em seus estudos nos traz o conceito dos “arquétipos” que por sua vez nos leva a um fator desconcertante que é a semelhança dos produtos da nossa capacidade de criação durante o sono, com os mitos, as mais antigas criações do homem. Os mitos formam de acordo com a nossa ótica racional, um mundo inteiramente alheio a nossa lógica e os sonhos são muito parecidos com os mitos. Tanto na forma, como no conteúdo sonhos e mitos nos parecem estranhos e impossíveis pelas leis que governam nosso tempo.
A linguagem em que os sonhos se expressam é atemporal. Os sonhos que temos hoje em dia são os mesmos daqueles que viveram na Antiguidade porque se expressão por simbologia. Nessa linguagem simbólica, pensamentos, sentimentos e experiências íntimas são expressas como se fossem experiências sensoriais. Os fatos do mundo exterior se expressam numa lógica que difere da linguagem convencional. Na linguagem convencional, nossa lógica é ditada por categorias dominantes como tempo e espaço; na linguagem do sonhos as categorias que valem é a associação e a intensidade.
Os sonhos são uma linguagem atemporal e universal, um idioma único jamais criado pela raça humana; no entanto, nos condicionamos a não dar importância aos mesmos. Nosso racionalismo nos fez abdicar do seu entendimento. Freud nos deu uma valiosa contribuição para que despertássemos para a importância de nossos sonhos; colocou o estudo do sonho como um fenômeno universal, seja para um ser humano doente ou sadio. Ele percebeu também que os sonhos não se diferenciam dos mitos e que compreender essa linguagem era nos autoconhecermos.
Toda a imagem que vemos num sonho constitui um símbolo de algo que sentimos. Ma afinal, o que é um símbolo? Símbolo é uma expressão sensorial que representa um pensamento, um sentimento, uma experiência interior, algo de dentro de nós. A linguagem simbólica é um idioma onde o mundo exterior é um símbolo de nossas almas e mentes. Sonhamos que somos ambiciosos quando nos achamos desprendidos, sonhamos com a realização dos desejos, sonhamos ter raiva de pessoas que amamos, sonhamos com lugares que nunca conhecemos... e não entendemos os nossos sonhos.
Deveríamos nos dedicar ao estudo dessa linguagem como nos dedicamos ao estudo de outro idioma. Se entendermos a linguagem em que os sonhos são escritos, poderemos nos utilizar dessas horas em que não estamos conectados ao mundo exterior e decifrar a nós mesmos. Se o sonho é uma linguagem simbólica, decifrá-los seria um ato de força e coragem, pois nos traria autoconhecimento. Entender a linguagem dos sonhos é traduzir nosso “modo operante”. Mas como entender esse idioma?
Muitos estudiosos do assunto nos forneceram inúmeras teorias para solucionar o mistério, todavia existem três delas que podem ser consideradas como as mais importantes:
1- * A teoria freudiana que afirma que todos os sonhos são manifestações da natureza não racional do homem;
2- * A teoria junguiana que coloca os sonhos como produto do inconsciente coletivo, revelando conhecimentos que transcendem o indivíduo;
3- * Uma terceira corrente que coloca os sonhos como uma atividade mental que revela nossos anelos irracionais, mentais e morais.
A interpretação dos sonhos é algo que fascina o homem desde o princípio. Os povos Antigos não falavam no sonho como um fenômeno psicológico e sim como experiências concretas da alma separada do corpo, mensagens enviadas por divindades ou como contato com espíritos e seres de outro mundo. Cada sonho era interpretado numa determinada estrutura cultural e referências religiosas e morais.
A interpretação psicológica dos sonhos procura compreendê-los como a expressão da mente que sonha. Existe uma ligação significativa entre temperamento e conteúdo sonhado. Homero já citava o sonho como uma manifestação de nossas faculdades, quer racional ou irracional e Sócrates dizia que os sonhos representavam a voz da nossa consciência, sendo muito necessário ouvi-la. Já Aristóteles nos falava sobre a natureza racional do sonho e supunha que durante o sono éramos capazes de percepções mais precisas de ocorrências corporais sutis; ele colocava que muitos sonhos eram acidentais e que não mereciam ser creditados como funções preditórias. Freud colocou que todos os sonhos, sem exceção, tem significado e constituem comunicados importantes para nós mesmos.
Cada um de nós é seu próprio instrumento para decifrar a linguagem dos sonhos. Não existe nenhuma pessoa privilegiada, pois o sono é uma atividade física inerente a todos. Kant escreveu que “os sonhos são idéias que a gente não lembra ao acordar”; segundo seus estudos, o homem não dorme completamente e tece as ações de seu espírito junto as impressões dos sentidos externos; portanto, se recordaria posteriormente de parte deles.
Os sonhos possuem integridade e tem uma consciência dupla, são tanto sub como objetivos. Mostram-nos que cada ação, cada pensamento, cada causa é bipolar. Somos conduzidos por essa experiência às causas e inteirados da identidade de todos “efeitos”. Ao traduzir a linguagem onírica aprendemos que as ações que repudiamos provêm dos mesmos sentimentos que aceitamos. O sono retira a máscara da realidade e o sonho nos arma da liberdade que converte tudo em ação.
Entender a linguagem dos sonhos requer não só conhecimentos, mais muita prática e paciência. Significado e função dos sonhos são questões muito ambíguas: desejo irracional ou discernimento de energias e acontecimentos? Eu inferior ou eu divino? A linguagem dos sonhos está estruturada sobre as nossas experiências sensoriais. Nossas lembranças vão formando um todo sólido que se insere em nossas ações atuais e por trás das lembranças, existem outras milhares, armazenadas no subconsciente. O “despertar da consciência” está muito ligado a interpretação da linguagem dos sonhos porque quando nós sonhamos, abrimos um alçapão e permitimos que a claridade destrua o “véu de maya” e abra o “portal da verdade”, o acesso as nossas faculdades mais humanas.
Bjos no Coração
Abraço na Alma
Namastê!
Saviitri Ananda - CRTH/BR0230
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