Nellie Bly foi um exemplo de mulher, do poder feminino. Por volta de 1890, iniciou sua vida de jornalista, ficando conhecida como a pioneira das reportagens investigativas.
Elizabeth Cochran Seaman, mais conhecida pelo pseudônimo
Nellie Bly, foi uma jornalista estadunidense. Foi também escritora, inventora,
administradora e voluntária em obras de caridade, mais conhecida por sua viagem
de circunavegação do globo em 72 dias, simulando a viagem ficcional de Phileas
Fogg, no livro de Júlio Verne. Foi também pioneira nas reportagens
investigativas, fingindo insanidades para estudar uma instituição para
tratamento de doentes mentais por dentro
Nascida em "Cochran's Mills", hoje uma parte de
Pittsburgh. Seu pai, Michael Cochran, trabalhava em um moinho e era casado com
Mary Jane. Ele era um imigrante irlandês, vindo do Condado de Derry. Michael
ensinou a seus filhos o valor do trabalho honesto e da determinação, comprando
o moinho e boa parte do terreno em volta para constituir a fazenda de sua
família. Nellie chegou a frequentar um internato por um semestre, mas foi
forçada a largar por falta de dinheiro.
Em 1880, Nellie e a família se mudaram para Pittsburgh. Uma
coluna misógina e agressiva chamada "What Girls Are Good For", no
jornal Pittsburgh Dispatch a incentivou a escrever uma carta incisiva ao editor
contra a coluna, sob o pseudônimo de "Solitária Garota Órfã". O editor, George Madden, impressionado com a
carta apaixonada publicou um anúncio no jornal pedindo que a autora se
identificasse. Quando Nellie se apresentou ao editor, ele lhe ofereceu uma
oportunidade de escrever para o jornal, sob o mesmo pseudônimo que ela usou na
carta. Depois de seu primeiro artigo para o jornal, escrito "The Girl
Puzzle", o editor teria ficado ainda mais impressionado com a qualidade da
escrita de Nellie e ofereceu à ela um trabalho em tempo integral. Era comum que
quem escrevesse para jornais, especialmente mulheres, usassem pseudônimos. Ela
escolheu "Nelly Bly", mas o editor escreveu "Nellie" e o
erro ficou.
Seu trabalho no jornal focava na situação das mulheres
trabalhadoras, escrevendo uma série de artigos investigativos sobre as mulheres
que trabalhavam em fábricas, mas os editores a pressionaram para fazer colunas
sobre moda, sociedade e jardinagem, o papel comum de mulheres jornalistas na
época. Insatisfeita com essas tarefas,
ela tomou a iniciativa de viajar para o México para ser correspondente
internacional. Com apenas 21 anos, ela passou cerca de seis meses escrevendo
sobre a vida e a cultura do povo mexicano. Seus textos foram posteriormente
publicados em um livro chamado Six Months in Mexico, em 1888. Alguns de seus textos ela critica a prisão de
jornalistas locais, o governo mexicano e a ditadura de Porfirio Díaz e quando
as autoridades mexicanas souberam de seus textos, ameaçaram Nellie de prisão,
convidando-a a se retirar do país. A
salvo em casa, ela denunciou Díaz como um tirano que oprimia o povo mexicano e
controlava a imprensa com uma censura severa.
Cansada dos textos sobre artes e teatro, ela se demitiu do
Pittsburgh Dispatch em 1887 e foi para Nova York. Sem dinheiro por vários
meses, ela buscou o escritório do jornal de Joseph Pulitzer, o New York World,
e aceitou um trabalho de jornalista disfarçada. Ela teria que se passar por
louca para investigar denúncias de brutalidade e negligência no hospital
psiquiátrico para mulheres na Ilha Blackwell. Após uma noite praticando
expressões na frente do espelho, ela se registrou em uma pensão. Recusando-se a
ir para a cama, dizendo que tinha medo, que eles pareciam loucos, os donos da
pensão decidiram que ela parecia louca e na manhã seguinte chamaram a polícia.
Levada à corte, Nellie alegou não se lembrar de nada da noite anterior e o juiz
concluiu que ela estava sob a ação de drogas. Sendo examinada por vários
médicos, todos as declararam "insana". O caso da "bela moça
louca" atraiu a atenção da mídia, onde até o jornal The New York Times
questionava quem era a misteriosa garota sem memória.
Internada em um hospital psiquiátrico, Nellie teve uma visão
das condições da instituição em primeira mão. A comida era arroz, carne
estragada pão seco e água intragável. Os pacientes mais perigosos eram
amarrados uns aos outros com cordas. As pacientes em geral eram obrigadas a
ficar sentadas em bancos duros durante o dia inteiro, sem nenhuma proteção
contra o frio. Esgoto corria pelo
refeitório e pela cozinha. Ratos percorriam os corredores e os quartos. A água
para o banho era gelada e jogada sobre a cabeça das pacientes com baldes. As
enfermeiras eram abusivas, grosseiras, gritavam para que as pacientes calassem
a boca, batendo nelas caso não o fizessem. Conversando com algumas pacientes,
ela teve certeza de que muitas não eram insanas ou loucas e estavam internadas
contra a vontade. Sobre essa
experiência, ela escreveu:
“ O que,
exceto a tortura, poderia gerar insanidade mais rápido do que este tratamento?
Aqui uma classe de mulheres foi enviada para ser curada. Gostaria que os
médicos especialistas, que me condenaram por minhas ações, que provaram suas
habilidades, que peguem mulheres perfeitamente saudáveis e sãs, que calem suas
bocas e as façam sentar das seis da manhã às 8 da noite em bancos duros, que
não deixem que elas falem ou se movam durante essas horas, sem dar-lhes nada
para ler ou conhecimento sobre o mundo lá fora, dando-lhes comida de péssima
qualidade e um tratamento brutal, e vejam quanto tempo levará para que elas se
tornem loucas. Dois meses as destruiriam mental e fisicamente."
Depois de 10 dias no hospital, Nellie recebeu alta. Sua
reportagem publicada posteriormente em livro, chamado Dez Dias em Um Hospício,
causou um furor na opinião pública e elevou o nome de Nellie ao estrelato.
Médicos e funcionários tentaram explicar o quão decepcionados estavam com o
relato, enquanto promotores lançaram uma investigação sobre as condições no
hospital psiquiátrico, convidando Nellie para participar. Eles elaboraram um
relatório recomendando mudanças extensas no tratamento dado às pacientes e
aumentaram o orçamento do Departamento de Correções e Caridade em 850 mil
dólares. O relatório também exigia que apenas pessoas severamente doentes
fossem enviadas aos hospitais.
Em 1888, Nellie sugeriu a seu editor no New York World que
ela deveria fazer uma volta ao mundo, em um tentativa de recriar a viagem
fictícia imaginada por Júlio Verne. Um ano depois, em 14 de novembro de 1889,
ela embarcou no navio a vapor Augusta Victoria e iniciou sua jornada de 40 mil
quilômetros, levando uma pequena bagagem de mão com roupas íntimas, um casaco
de inverno, o vestido que usava e artigos de higiene, além de uma bolsa com 200
libras, ouro e alguns dólares. A Cosmopolitan colocou uma de suas repórteres,
Elizabeth Bisland, para tentar bater o recorde do livro e de Nellie Bly,
começando pelo outro lado do mundo, oposto à viagem de Nellie. Para manter o interesse dos leitores, o jornal
organizou uma aposta na qual os leitores teriam que estimar quanto tempo Nellie
levaria para completar a viagem, tendo que acertar até os segundos, concorrendo
à uma viagem para a Europa e dinheiro.
Nellie esteve na Inglaterra, França, onde conheceu Júlio
Verne, em Amiens, Brindisi, Canal de Suez, Colombo, Penang, Singapura, Hong
Kong e Japão. Com a evolução da tecnologia de telégrafos, com cabos submarinos,
Nellie podia mandar relatórios atualizados de sua jornada para os Estados
Unidos. Utilizando navios a vapor e
ferrovias, muitas vezes sua viagem era interrompida pela pobre estrutura viária
de alguns países. Nestas paradas obrigatórias, ela aproveitava para visitar
locais de interesse, como uma colônia chinesa para pacientes com hanseníase. Por
conta do mau tempo, Nellie chegou a San Francisco pelo RMS Oceanic, da linha
White Star, em 21 de janeiro de 1890, dois dias antes do previsto. Durante essas paradas, visitou uma colônia de
leprosos na China. O dono do jornal
porém pagou por um vagão especial para trazê-la para casa através do país e ela
chegou em Nova Jersey em 25 de janeiro de 1890. Cerca de 72 dias depois de sua
partida em Hoboken, ela estava de volta. Nellie circunavegou o globo, viajando
praticamente sozinha em toda sua jornada. Na época, a repórter da Cosmopolittan ainda
estava atravessando o Atlântico, chegando em Nova York quatro dias e meio
depois.
Em 1895, Nellie se casou com o industrial milionário, Robert
Seaman. Nellie tinha 31 anos e Seaman tinha 73 quando se casaram. Com o casamento, ela se aposentou do
jornalismo, tornando-se presidente da Iron Clad Manufacturing Co., que
fabricava contêineres para latas de leite e chaleiras. Em 1904, seu marido
faleceu. Nellie foi inventora prolífica neste período, tendo recebido patentes
para embalagens de leite e cestos de lixo. Por um tempo, ela foi a única mulher
a liderar uma indústria no país, mas o desfalque aos empregados causou a
falência da empresa. Isso a forçou a
retornar ao jornalismo, escrevendo relatos do front oriental durante a Primeira
Guerra Mundial. Ela brilhantemente cobriu a Parada Sufragista de 1913, prevendo
em seu texto que logo as mulheres poderiam votar nos Estados Unidos. Nellie faleceu em Nova York, em 27 de janeiro
de 1922, no Hospital St. Mark, de pneumonia. Ela foi sepultada em um túmulo modesto no
Cemitério de Woodlawn, no Bronx.
FONTE: wikipédia
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