Os Maias formaram uma civilização pré-colombiana muito importante que se destacou por ter um sistema de escrita, único nas Américas. Uma cultura muito avançada que possuía um idioma falado no mesmo grau que o escrito, uma arquitetura fantástica que utilizava de técnicas que até hoje são desconhecidas, sistemas matemáticos e astronômicos de alta precisão e uma paixão pela arte. Os Maias tinham um alto grau de interação e difusão cultural na região que hoje é ocupada pelo México, Honduras, Guatemala, El Salvador. Dos povos pré-colombianos foram os que atingiram maiores avanços ( escrita, epigrafia, arquitetura, calendário). Ao contrário de outras civilizações, os Maias nunca desapareceram e ainda hoje Maias e seus descendentes formam populações consideráveis nas áreas citadas e mantém um conjunto muito distinto de tradições e crenças que ainda são transmitidas na língua “achi”.
Os Maias associam os eventos humanos com as fases da Lua. A principal divindade Maia é Itzama, a manifestação visível de Kinich Ahau (Rosto do Sol), uma divindade multi-talentosa e multifuncional; ele é o deus, marido da deusa Lua Ixchel e patrono da realeza. Itzamna amava o seu povo e concedeu-lhe a dádiva dos livros, escrita, calendários e remédios. As lendas mitológicas contam que o deus Itzama criou o mundo e se casou com a deusa da Lua (fertilidade, gravidez, cura, tecelagem) procriando os deuses Yun Kaax (deus do milho), Ek Chuah ( deus das estrelas); suas filhas foram as deusas das águas, da noite e do paraíso.
Ixchel é a deusa, a “tecelã da teia da vida”, a "Senhora do Arco-íris"; incorpora a mulher amorosa e guerreira. É a Grande-Mãe maia e encera em si as qualidades de seu marido Kinich Ahau, que se confundia com Itzama, o Céu propriamente dito, pois era a sua manifestação diurna, por oposição a sua imagem noturna. Ele era representado sob os traços de um velho sábio e ela como uma anciã derramando um jarro cheio de água sobre a terra e, também, como uma anciã tecendo em um tear de cintura. Seu templo se localiza na ilha de Cozumel ( antiga Ecab) e até hoje é um lugar de peregrinação onde as mulheres jovens vão pedir em suas gestações para procriarem filhos saudáveis, progredirem no campo profissional e obterem cura em todas as áreas. Ela ajuda a assegurar a fertilidade pelo fato de segurar o vaso do útero de cabeça para baixo, de modo que as águas da criação possam estar sempre jorrando. Ixchel também é Deusa da Lua, da tecelagem, da magia, da saúde, da cura, da sexualidade, da água e do parto.
Ixchel é a Grande Mãe maia da Vida e da Morte; derrama as águas da vida do seu jarro de ventre sobre todos nós e é a dona dos ossos e das almas dos mortos. Sua festa é realizada em 1 de novembro, Dia dos Mortos e seu animal especial é a libélula (dizem que quando ela quase foi morta pelo avô por tornar-se amante do Sol, a libélula cantou sobre ela até que se recuperasse). Assim, tanto como provedora da vida e da fertilidade era também, controladora dos poderes destrutivos da natureza, portanto, Deusa da Morte. Para a nossa mentalidade ocidental é muito difícil conceber um deus que seja ao mesmo tempo gentil e cruel, criador e destruidor; todavia para os adoradores de Ixchel não há contradição, pois ela vive em fases, manifestando em cada uma delas suas qualidades peculiares. Na fase do mundo superior, correspondente à lua brilhante, ela é boa e gentil e na fase que correspondente a lua escura, ela é cruel, destrutiva e má.
Jung demonstrou em seus estudos que nós possuímos “anima” (princípios femininos) e “animus” (princípios masculinos) dentro de nossos psiques e que os deuses são forças que funcionam separadamente da nossa vontade consciente e cuja ordem precisamos nos curvar. Apresenta-se coroada com serpentes, carregando objetos de rituais tais como, o espelho e plantas sagradas. Ixchel se apresenta como o arquétipo que contém os aspectos mais significativos da vida de uma mulher: a Grande Mãe, a Senhora da Terra, que em suas representações das fases da Lua abrange tanto os aspectos femininos como os masculinos. É uma deusa em perfeito estado de integração, atravessando através de sua representação de deusa tríplice ( a mulher jovem, madura e sábia anciã). Como jovem integra componentes e atributos que remetem ao início da vida, assume o arquétipo do casamento ao ser uma esposa, companheira do Deus sol, exercendo o poder para conseguir a abundância por intermédio da união sagrada; como anciã sábia é reconhecida como grande e poderosa “Dama Velha’, sua experiência leva-a a saber tecer da melhor maneira e reconhecer o momento propício para esvaziar seu jarro cheio de água sobre a terra.
Sabemos que desde sempre e por toda parte, os homens têm concebido uma Grande Mãe que zela pela humanidade lá do céu; este é um conceito encontrado em praticamente toda a religião e mitologia. Esta Deusa detêm os mistérios da vida e da sexualidade feminina. Ela é Deusa do amor, mas não do casamento; é a protetora das mulheres e das crianças. O leite nutritivo flui dos seus seios e o sangue sagrado da vida flui do seu útero. Os maias elegeram Ixchel como sua poderosa Grande Mãe e os mitos da Deusa Lua e suas características protegem uma verdade que nada mais é do que a realidade subjetiva interior da psicologia feminina. Através de todos os tempos, a Lua sempre representou a imagem do princípio feminino. E como demonstrou Jung, anima como princípio é uma função tanto do homem quanto da mulher. Mas para as mulheres fica muito evidente a influência da Lua porque pela vida cíclica; assim, no curso de um ciclo completo que corresponde à revolução lunar, a energia física, sexual, emocional da mulher cresce, brilha totalmente e míngua outra vez. Essas mudanças as afetam toda a nossa vida e se quisermos viver bem, precisamos seguir o ritmo de nossa própria natureza, submetendo-nos à energia da Mãe-Lua que mergulha no tempo e nos traz das estrelas a energia sagrada feminina.
A Lua tem uma energia muito peculiar, faz as sementes germinarem e as plantas crescerem, mas seu poder não termina aqui, pois sem sua ajuda os animais não poderiam gerar filhotes e as mulheres não poderiam ter filhos. Para os Maias, que viviam em pequenas tribos e dependiam do seu contingente humano, Ixchel era a Grande Mãe, porque dela dependia não só os nascimentos, como também o suprimento de alimentos. Ixchel é a árvore da vida, provedora da fertilidade que garante a continuidade da vida, tanto animal quanto vegetal e humana; ela carrega o coelho como símbolo da fertilidade e abundância.
Ixchel, representa a mulher de verdade; aquela que é poderosa, que respeita sua feminilidade, que tece a “teia da vida”, que usa tanto sua sensibilidade como sua força, que é criativa, que é ousada, que sabe como prover sua própria cura. Através do encontro com Ixchel nos abrimos para a beleza e a magia da Grande-Mãe e tomadas por sua energia poderemos compreender todas as nossas oscilações e mudanças pelas quais passamos. A força da Lua é o alimento que nutrirá nossa Deusa, aquela que nos faz curandeiras, nos concede o dom de nutrir, de prover; também nos faz sensuais, faz com que externemos nossa beleza, nossa sexualidade. A Lua cheia dá a chave do mistério, abre as portas do sagrado e nos coloca em conexão com o divino e através dessa conexão, encontramos maneiras de superarmos nossos medos e nos relacionaremos melhor com o mundo como um todo.
Bjos no Coração
Abraço na Alma
Namastê!
Saviitri Ananda - CRTH/BR0230