segunda-feira, outubro 19, 2020

MEDITAÇÃO : CAMINHO PARA ASCENSÃO



SAT CHIT ANANDA

Estas palavras sagradas, representam uma das maneiras mais lindas de se descrever as maravilhas do encontro verdadeiro com nossa consciência divina, a fusão de nossa consciência egóica e dissolução completa na consciência cósmica. Este momento mágico de êxtase divino é conhecido em sânscrito como samadhi. A experiência plena da consciência é também muitas vezes conhecida como onisciência ou cosmoconsciência.

Sat Chit Ananda é o mantra que nos diz que nossa alma é o amor incondicional representando o grande Espírito de amor que é Deus. Sat é o termo do sânscrito que tem como referência a verdade. Verdade no sentido de ser livre de todos os condicionamentos e idéias limitantes, é a representação da onipotência divina, o raio azul da criação. Chit simoliza a consciência plena, um conhecimento total de todas as realidades manifestas e além. Esta consciência pura é a sabedoria divina em ação, o raio dourado da manifestação. Para completar esta poderosa afirmação Ananda descreve a felicidade total, a plenitude do ser, a serenidade e a bem-aventurança eternamente revigorada pelo amor divino que a tudo nutre, o filho, o CRISTO.

Verdade – Consciência – Bem aventurança

O encontro com o SELF ou SER, é o estágio derivado da expansão máxima da consciência e pode ser condicionado (induzido) ou incondicionado. Paramahansa Yogananda, amado mestre que iniciou a difusão do Kriya Yoga no Ocidente fala em sua Autobiografia de um Iogue sobre esta maravilhosa expansão e oferece ensinamentos que são critérios para compreender o estágio condicionado do samadhi, conhecido como sabikalpa samadhi, e com a verdadeira liberdade que existe ao atingir nirbikalpa samadhi. O SER é o Supremo Espirito Realizado em cada um de nós, a manifestação completa dos três aspectos manifestos da divindade, a onipotência, onsciência e onipresença. Esta é uma realidade muito além de qualquer condição ou limite de nossa percepção humana desta verdade. A fusão total com esta perceção é conhecida como autorealização do SER ou SELF, quando o espírito santo expressa toda a unidade divina através da personalidade manifesta. Este é o processo que todos os mestres iluminados vivenciaram em sua ascensão, uma fusão consciente com a unidade divina.

Na senda evolutiva desta caminhada humana, os grandes mestres nos ensinaram a arte da meditação e todos seus efeitos sobre nosso corpo e mente. Ao percorrer os estágios da meditação e vivenciar a iluminação espiritual, o encontro com o SER, é importante aprender com cada etapa e compreender seus ensinamentos, para que o discernimento desta experiência seja o mais aprimorado possível. Esta jornada de liberdade dos sentidos e percepções também pode ser vivenciada de diversas outras formas condicionadas como fazem os xamãs com a utilização de ervas de poder e chás sagrados.

Como citado anteriormente, é comum que jovens (índigos ou não) que já tenham vivenciado esta experiência induzida pelo uso de substâncias como LSD, ayahuasca, peyote, cogumelos, etc; tenham atingido estágios de expansão da consciência, e que descrevem percepções muito semelhantes ao estado de samadhi. Este estágio também é atingido pela entoação e percepção interna do mantra AUM que faz vibrar todos os corpos em ressonância com o som do Verbo sagrado.

Independentemente da forma, seja pela meditação, por percepções de alucinógenos, ou qualquer outra técnica de expansão o resultado do sabikalpa samadhi está condicionado às suas causas, portanto ainda imerso no ciclo existencial das encarnações e reencarnações.

A busca real pelo encontro com o SELF tem o seu destino no oceano infinito do amor e consciência que é Deus. O fim da ilusão, a verdadeira morte ou moksha ocorre quando o ego sublimado finalmente se entrega à totalidade. Este estágio é o verdadeiro samadhi, nirbikalpa samadhi, a iluminação plena, a fusão incondicionada na unidade. Este estágio é o verdadeiro sentido da Yoga que literalmente se traduz União. Esta unidade de nossa consciência individual com a Onisciência é o estado que atingem os verdadeiros mestres, livres de todos os condicionamentos, o amor encarnado em sua pura essência. Krishna, Buda, Jesus, Babaji, Yogananda, e muitos outros seres são um belo exemplo da experiência de como uma consciência liberta pode contribuir voluntariamente para a expansão deste estágio a todos os demais.


Este verdadeiro amor que permeia o universo reside em todos nós esperando aflorar o lótus da consciência suprema. Esta fusão é descrita pelos indianos como jivam mukta, que significa liberto em vida, a condição do SER totalmente consciente e pleno, que por livre arbítrio ainda habita um corpo, mas em constante estado de total unidade com Deus. Como esta liberdade é verdadeira, portanto, incondicionada, é livre das ações e reações, alheia a egos e vontades, sendo que a consciência está além das necessidades de retornar as limitações do ego, mesmo em outros universos manifestos.

Para esta caminhada precisamos ser conscientes em escolher o melhor caminho, a melhor técnica, para nos aproximarmos cada vez mais desta expansão ilimitada. A meditação seguramente é a forma mais recomendada por todos os seres iluminados, almas já libertas e dissolvidas na unidade.

Independente da forma escolhida para realizar a meditação a mesma sempre envolve fatores comuns, como a respiração, posições, as percepções, isolar os pensamentos e demais processos e técnicas sugeridas. Muito mais importante que a técnica é estar concentrado no objetivo, de conhecer a verdadeira liberdade proporcionada pelo encontro divino consigo mesmo.

Neste caminhada independente do caminho escolhido o primeiro processo transmutar nossa maneira de sentir, trocando o sentir o material, por perceber o espiritual. Uma das chaves da meditação está no relaxamento do corpo físico e conseqüente amenização dos sentidos físicos. O processo de sentir o mundo está ligado aos nossos cinco sentidos, às ilusões transitórias da matéria e nos aprisionam nos condicionamentos do dia a dia. Por isso muitas pessoas fracassam logo neste primeiro estágio, de simplesmente parar de pensar e relaxar.

Muitos iniciantes desistem logo no começo da meditação por que o sentir é muito intenso. Sentimos dores por estar muito tempo nas posições. Sentimos vontades de falar, de pensar, de nos movimentar. Essas movimentações são comuns para nosso ego, a consciência individual acostumada com a ilusão da separação e que se limita ao corpo físico. O ego prefere continuar sentido os gostos e desgostos da vida, as paixões e turbulências da existência humana em todas suas facetas e apegos.

Silenciar o corpo e a mente é o primeiro passo para que possamos nos desprender da consciência egóica, porém o mais difícil. Nos primeiros dias muitas pessoas agüentam poucos minutos de silêncio, quietude e solidão. Ao persistir na busca, seja intensificando a meditação, aprimorando os estudos ou de qualquer outra forma, passamos então a perceber o universo.

Perceber no sentido de interagir com a realidade mais sutil, os sentimentos em seu nível sublimado, e ver as coisas sobre a ótica espiritualista. Desligando-nos temporariamente dos sentidos físicos, passamos a perceber os sentidos mais sutis, as para-percepções que são imanentes das dimensões vibratórias de freqüências mais elevadas, por tanto cada vez mais próximas da verdadeira fonte de tudo.

Este estágio de percepções avançadas pode estar desperto de várias formas e grande parte dos estudantes espiritualistas e praticantes de religião conhecem esta percepção mais sutil do universo de forma intensa. As energias percebidas pelos canais e centros sutis, os nadis e chacras, são emanadas tanto para nosso corpo físico como para os corpos superiores.

O próximo passo na caminhada é o observar. Se tornar o observador é um processo importante para dissociação do ego e sua redenção no SELF. Observar é o estágio onde saímos do centro causador das ações, dos pensamentos, das energias, e das percepções e passamos a existir em uma forma sublimada. A verdadeira observação tem início nos estágios do samadhi condicionado e são aonde grande parte dos seres espiritualistas acabam ficando, de tão espontânea a felicidade e bem-aventurança. Neste estágio ainda são comuns as práticas devocionais, de mantras e decretos, a percepção do EU SOU e todas suas manifestações em caminho a serenidade e plenitude do SER.

Na observação podemos nos libertar até mesmo da mente, dos pensamentos e de tudo mais que nos remete à percepção do eu individual. O eu observo, eu sinto, eu percebo, eu vivencio, aos poucos vai se dissolvendo. Após todas as experiências maravilhosas vivenciadas pela expansão do sabikalpa samadhi a consciência que se liberta e despoja de todas essas vivências e experiências, chega então à realização da meta suprema de união com Deus.

Nesta verdadeira iluminação, de jivam mukta, não existe mais alguém para sentir, para perceber ou para observar, resta somente o SER, que é ao mesmo tempo o corpo, o cenário, as ações, interações, observações, pensamentos e conclusões. O SER (SELF) é a realização plena da consciência iluminada, que transcendeu do EU SOU para o NÓS SOMOS ( EU SOU O EU SOU) e vive a plenitude eterna de SAT CHIT ANANDA, o grande mantra SOMOS TODOS UM!

Inspirado pelos ensinamentos do mestre Yogananda, podemos compreender todos estágios antes citados analisando como alegoria uma sala de cinema.

“A melhor coisa que você pode fazer para cultivar a verdadeira sabedoria
 é praticar a consciência de que o mundo é um sonho.”

Paramahansa Yogananda

O estágio do sentir é percepção básica de todos nós e seria comparado ao que vemos refletidos na tela do cinema onde assistimos ao filme de nossa vida. Uma mistura de luz e cores, sons, cheiros, gostos e sensações. Todas essas criações são emanadas de uma mesma fonte, um mesmo projetor. Este projetor divino podemos aludir como o projetor do cinema, que reflete as imagens na tela do cinema, e nos faz interagir com vários tipos de sentimentos e percepções. Esta é nossa mente, criando.

A vida é na verdade como um sonho, ou doce ilusão. Assim como os paraísos ou infernos astrais descritos de diversas maneiras também o são, apenas títulos de outros filmes a estrear depois de nossa morte física.

Neste nível do sentir, podemos ver como fazemos parte do filme que Deus escreveu para a humanidade. Muitas vezes nos afinizamos com os diversos papéis, e vamos interpretando os mocinhos, heróis ou vilões, anjos e demônios, das diversas histórias. Todos os papéis são indispensáveis para um bom filme. O bem e a mal, a mentira e verdade, as paixões e desejos, todas fazem parte do filme da vida, assim como a dor, o sofrimento, as tragédias. Todo esse drama é criado pelo projetor supremo, a mente de Deus, que atua em nós através de nosso cérebro físico, responsável por criar o mundo material em que vivemos.

No estágio de perceber, nos colocamos como os personagens da história que assim como o Trumam (representado por Jim Carrey) começam a vislumbrar que existem coisas além do sonho ou ilusão da vida, e que nossas percepções físicas e materiais podem ir além dos sentidos. Descobrimos que fazemos parte de um filme da vida, e aí nosso filme da vida se torna uma ação.

Entramos então em um nível matrix, onde o “Neo” interior desperta e tentamos escapar do sistema da ilusão de maya. Uma busca pela resposta de onde estão sendo projetados todas as vivências e experiências.

Elevando a percepção para o nível mental nos deparamos com espectador. Aquele que está ali só observando o filme. Ele não interage de forma a mudar a história, ou as representações manifestas na tela.

Um bom espectador vê o filme sem se abalar ou se apegar ao mesmo, independentemente da imagem refletida. Um bom espectador se concentra em cada cena e apenas observa o filme da vida, pois ao entrar na sessão ele já sabia que o filme teria começo, meio e fim. Se o espectador se libertar de sua observação, dos apegos e sentimentos vivenciados através do filme, pode perceber de onde são projetadas as imagens, e sua atenção vai direcioná-lo ao projetor, a fonte que emana as vibrações do filme da vida. O projetor é como AUM que manifesta os infinitos filmes que podem ser projetados no cinema da consciência.

AUM é além de nossa mente, e normalmente chegamos a este ponto conhecido por samadhi AUM, onde o som eterno faz com que ocorra a transcendência da mente. Independentemente das cenas do filme, das percepções do observador, o projetor nunca muda, permanece sempre o mesmo, e faz com que o jogo de luz, sombras, cores e sons seja vivenciado com a maior realidade possível.

O cenário completo, o cinema, representa a totalidade do SER. O cinema é tudo ao mesmo tempo ao mesmo passo que não é diretamente, nem o filme, nem o espectador, nem o projetor das imagens e sons, e sim um conjunto inseparável de todas essas coisas, uma unidade. Deus é o autor de todos os filmes, ao mesmo tempo que interpreta todos os personagens da vida, os bons e ruins, é o público que assiste, o projetor de todas as imagens e ainda toda a estrutura do cinema e além.

Portanto vamos escolher o filme certo para representar, assistir e ser. Vamos ao cinema divino, que sempre irá projetar na tela de nossas mentes e corações o filme do amor incondicional. Podemos então assistir essa jornada com carinho, concentração e discernimento, para ser parte consciente de todo o espetáculo que é sonho da vida, servindo a Deus. Sejamos também atores divinos, interpretando os mais lindos papéis de amor e liberdade, como instrumentos de paz e serenidade. Cumprindo este aspecto sublimado do drama da vida somos independentes do filme em cartaz, do observador e do projetor, nos tornando apenas o amor que a tudo permeia, sendo UM, o SER, o AMOR.

Gratidão, Paz e AMOR,
Mautama

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