terça-feira, fevereiro 11, 2020

SOMOS TODOS ÁGUIAS

Para a formação de um xamã, não existe nenhuma faculdade; todos os ensinamentos e conhecimentos são transmitidos por processos não compreensíveis às pessoas que não trabalham a sua espiritualidade. Esses ensinamentos são direcionados ou canalizados à pessoa que é encarregada de transmitir os preceitos assimilados, de uma forma clara e precisa de maneira a facilitar a compreensão da nossa caminhada nesse Mundo e a cura de todos.



Para os toltecas, tudo o que existe é parte de um único ser vivo e esse ser se manifesta criando todas as coisas, tanto aquelas que percebemos, como as que não podemos perceber. Tudo o que existe e é percebido pelos nossos sentidos é chamado de tonal e tudo o que existe e que não podemos perceber é chamado de nagual. O tonal e o nagual só podem existir por causa de uma conexão, de uma força que torna possível toda transferência de energia entre um e outro e a essa energia foi chamada de intento. Portanto, para a tradição Tolteca, nada existiria sem o intento. Para a cultura Tolteca o intento é a vida em si, é Deus; a prova que nada se cria, que tudo se transforma. Tudo é uma constante transformação e interação. Os Toltecas tinham como a imagem do seu Deus a “Águia” que significa o espírito e para eles todo ser humano é a Águia e assim todos os seres humanos são o nagual, o tonal e o intento.



 Há mais de 20 mil anos atrás, durante o terceiro Sol, havia uma raça de pessoas chamada de “terceira humanidade”, cuja ciência e tecnologia eram bem mais avançadas que as atuais. E mesmo com esse progresso, conseguiam manter corpo, mente e espírito em perfeita harmonia. Cabe explicar que os Toltecas não eram uma civilização distinta como os Incas, Maias ou Astecas; eles eram um grupo formado por sábios e sacerdotes de diversas tribos pré-colombianas, indivíduos de elevado estado de consciência, de autoconhecimento e de espiritualidade, cujos “dons” os classificavam a habitar dentro de um “espaço sagrado” (Teotihuacan). Nessa época existia a consciência de que os seres humanos não eram os únicos seres com mentes poderosas e que existiam seres invisíveis que também eram órgãos da Terra e compartilhavam o metabolismo da Terra como os humanos.


Hoje já readquirimos essa consciência e devemos muito a antigas e várias tradições. Sabemos da existência desses seres, que tem estado junto à raça humana desde tempos memoriais. Os Toltecas os chamavam de "Aliados" e esses seres se alimentam de nossas emoções, principalmente do nosso medo. Somos controlados por esses seres através de nossos sonhos e toda a nossa vida é um sonho dentro de uma estrutura material e assim, sonhar nos dá a sensação de realidade. Nascemos em um sonho de guerra e violência, mas conseguimos evoluir e nos nutrir de amor e não de medo; hoje as nossas almas já aprenderam o poder do amor e assim resistem ao medo. Todavia, ainda hoje os “Aliados” e estão se alimentando das nossas emoções, por isso, devemos ser cuidadosos com o tipo de emoções que estamos transmitindo. Assim é muito importante nossa energia emocional, porque nossas emoções atraem a atenção de seres de uma espécie semelhante e se estivermos felizes atrairemos mais felicidade, enquanto que, se estivermos deprimidos, atraímos mais depressão.


Voltando aos Toltecas. Os Toltecas praticavam um xamanismo baseado em Consciência e Percepção e não cultuavam espíritos ou deuses, mas estudavam outras consciências, outros mundos e outras energias.  Isso era resultante do conhecimento que tinham e de conseguirem visualizar como a energia fluía no universo. Podiam ver a energia de uma forma direta, sem necessidade dos ícones para construir a realidade que percebiam. Por isso a herança tolteca é oral e chega a nossos dias apenas través da prática e relato de xamãs que por tradição, praticaram os preceitos da toltequidade: o Sonho Lúcido, a Arte da Espreita, a Recapitulação, a Impecabilidade, o Espírito do Guerreiro e os Passes Mágicos, se tornaram o núcleo de suas praticas.

No Brasil, no final dos anos 80, Carlos Castaneda começa a ensinar a “Tensegridade”, uma versão moderna de antigos movimentos, gestos e respirações praticadas por xamãs do antigo México, descendentes dos Toltecas.
Os Passes Mágicos são a ferramenta fundamental para termos a energia e disciplina necessárias para realmente vivenciar o conhecimento tolteca ancestral. Atualmente, existem praticantes ao redor do mundo que testam e verificam cada uma das ferramentas desse legado. O foco dessas práticas é a observação de si próprio e dos momentos em que ganhamos ou perdemos energia, dos momentos em que estamos alinhados e das coisas ou situações que nos desalinham, nos desequilibram. Tentar romper o nosso condicionamento a velhos e equivocados comportamentos que só nos trazem dor, conflitos interiores e com os nossos semelhantes, e principalmente o que podemos fazer para que isso mude.




Dessa forma, a “Arte de Sonhar” se tornou para os verdadeiros xamãs uma prática constante, pois durante os “sonhos” experimentam estados não igualados de força física e bem-estar. Para manter esse estado em vigília, foram desenvolvidos uma série de movimentos corporais chamados de “passes mágicos”. Os Passes Mágicos são o “poder” do xamã e através de rituais, podem ser ensinados as pessoas que eles iniciam. A Tensegridade, que é um termo na arquitetura que significa a propriedade das estruturas esqueléticas que empregam elementos de tensão contínua e elementos de compressão descontínua de tal forma que cada elemento opera com o máximo de eficiência e economia, foi o nome mais apropriado para essa ação porque é uma mistura de dois termos: tensão e integridade, termos que conotam as duas forças motrizes dos passes mágicos.


Somos todos “águias”, somos feitos de Luz, somos irmãos das estrelas e árvores e todos viemos da Luz. A Luz é mensageira da vida, pois é a fonte primeira de tudo, de todas as informações. Por isso os toltecas chamavam as estrelas de tonal e a luz entre as estrelas de nagual; e o que criava a harmonia entre os dois espaços era a Intenção ou Vida. Sem a Intenção nada poderia existir, ela é a força do criador, a força do absoluto. Tudo o que existe é a manifestação de um ser a que denominamos Deus, e que os toltecas chamavam de “Águia”, não pelo aspecto físico, mas pela energia e visão do animal. Os toltecas eram conscientes de que cada nação tinha seu próprio deus e que a história de um povo era também a história do seu deus; por isso quando uma guerra acontecia não era apenas os homens que batalhavam, mas os deuses também. Eles eram guerreiros espirituais, sabiam que estavam lutando com os deuses que se nutriam dos conflitos e assim visavam se transformar em deuses, perdendo todos os medos e recobrando o controle de suas mentes.



No século XVI se iniciou o domínio da cultura Ocidental. A África, Ásia, Oceania e as Américas foram invadidas brutalmente e os europeus dominaram todos os povos do mundo impondo uma “cultura mãe”. Dessa maneira grandes civilizações como Egito, China, India, México e região andina foram sucumbindo pela exploração de sua gente, de seus recursos naturais e da destruição de filosofias milenares, religiões, modos de vida... para dar lugar a cultura ocidental. Seguindo aos exércitos guerreiros e invasores, chegaram as instituições, as leis e as autoridades europeias e, com elas, se impôs aos povos espoliados de suas raízes e dignidade, uma nova concepção de mundo e da vida, do bem estar e do progresso, do sagrado e do divino. Durante muitos séculos a sabedoria e o conhecimento de muitos povos precisaram ficar ocultos para sobreviver e preponderou a visão ocidental do mundo: os valores materiais sobre os espirituais, o desumanizado culto à ciência e à tecnologia, a depredação do planeta, a alienação do ser humano a favor de uma sociedade capitalista.

Mas o espírito humano não morreu e essa sabedoria vive resguardada em muitos povos antigos do mundo e os Toltecas estão presentes. O Toltecayotl representa um incomensurável acervo de conhecimentos e práticas, que não só tem que ver com a alimentação, a medicina, as ciências e as normas morais e éticas dos grupos humanos que as praticam consciente ou inconscientemente, senão de conhecimentos muito sofisticados e complexos, que tem a ver com a energia e a força espiritual dos seres humanos e as entidades que os rodeiam. Ele propõe um caminho para a “consciência absoluta” e requer que as pessoas mudem a forma de pensar, que transmutem as velhas ideias e refaçam a si e ao mundo de nova maneira, como verdadeiros guerreiros.



Para que possamos nos tornar verdadeiros guerreiros e nos imbuirmos do espírito dos toltecas, precisamos criar amor no lugar do medo, pois é com esse conhecimento que podemos criar um “Novo Mundo”. Como guerreiros espirituais, precisamos estar conscientes de que lutamos “contra os deuses que nos possuem”, ou seja contra nossas velhas crenças e só conseguimos romper esta possessão quando optamos por seguir a nossa intuição, deixar falar a Intenção dentro de nós. “Somos a nossa escolha” e o livre arbítrio pode nos livrar da dor do passado e nos encaminhar à liberdade pessoal. Qualquer pessoa que seja capaz de “mudar”, a si mesmo, as suas ideias, pode mudar o mundo e se transformar em um “guerreiro”. Quando nos tornamos conscientes, somos responsáveis pelos nossos atos e podemos manter nossos objetivos firmes e fortes, fazendo do tempo nosso aliado, sem ansiedades, angústias ou espera de reconhecimento.

Bjos no Coração
Abraço na Alma
Namastê
Saviitri Ananda - CRTH/BR0230

IN LAK’ECH !!!!  

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